domingo, 31 de dezembro de 2017

ele e ela

um dia nublado de verão. uma manhã na praia, junto das ondas rebeldes que lutavam umas contra as outras. uma rapariga, sozinha, a observar os edifícios existentes do outro lado da baía. os seus cabelos esvoaçavam à melodia do vento. um caderno de esboços preto, cheio de rabiscos feitos por um velho lápis vermelho e linhas pretas que sobressaíam das vermelhas pelas suas intensidades expressivas, pela sua simplicidade. o caderno abria-se e voltava a fechar-se pela força exercida pelo vento. como fundo, juntamente com o som do mar revoltado, ouvia-se as gargalhadas e o entusiasmo dos pescadores que se dirigiam à sua traineira, ansiosos por mais um dia de trabalho ao comando do capitão. do nada, um rapaz. livre, espontâneo. simples, cauteloso. Debussy tocava nos auscultadores. o seu olhar negro estava posto na rapariga ainda de costas. o seu casaco, semelhante a um manto negro, não era diferente do caderno e do cabelo da rapariga, limitando-se assim também ao vento e o seu bem querer. ele andava, lentamente, como quem tinha todo o tempo do universo, até à rapariga. ao perceber a presença dele, a mesma vira-se lentamente e um olhar intenso é partilhado entre eles. a distância é ultrapassada por aquele olhar. ali, num dia nublado, começa a história deles. o segredo deles.